domingo, 14 de outubro de 2007

Sunyani ou a minhas longas tranças


Sunyani é a capital de Brong-Ahafo. Aqui o solo é fértil. O ar também. Tão fértil que me fez nascer tranças na cabeça...demoraram 7 longas horas a crescer das mãos de duas senhoras.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Kakum National Park

Kakum é conhecido pelo Canopy Walk, o único em África e um dos 4 que há no mundo.
E o que é um Canopy Walk? perguntas tu muito bem. Consiste numa serie de cordas que traçam caminhos de árvore em árvore, a 15 metros do chão.
Tem o seu Q de assustador mas oferece uma perspectiva única sobre a floresta. Não havia animais à vista. São espertos e escolhem zonas menos transitadas para viver.
Descrever a experiência, descrever o que se sente a 15 metros do chão numa estructura que inspira muito pouca confiança, que abana a cada passo que dás. Saber a todo o momento que se aquilo decide cair estás perdido, porque se chegares vivo ao chão estás a 2 horas de qualquer hospital, a outras 2 horas de que alguém venha para te resgatar do meio da floresta TROPICAL...saber que uma vez deste o primeiro passo não há volta atrás e decidir dar esse primeiro passo...Talvez se possa comparar com saltar de paraquedas...talvez a adrenalina suba mais devagar e esteja em altas concentrações durante mais tempo...não sei, mas mesmo agora que estou a escrever isto, o meu coração está aos saltos como naquele momento, como naquele quarto de hora que passei no cimo da floresta...
Saber que aquilo que estás a viver é único, que não tem preço...e a floresta...a floresta vista como um pássaro. E depois descer, olhar para as árvores, olhar lá para o alto e pensar: estive lá em cima.


Cape Coast


No dia seguinte choveu. O dia todo. Por isso comprámos três impermeáveis, todos com tons pastel: rosinha, verdinho e roxinho...pareciamos saidas de um livro para crianças.

Também por ter chovido o Fetu Afaye atrasou-se, o que nos deu tempo para visitar o castelo de Cape Coast...o mesmo recital de barbaridades...menos emocionante mas mais triste por causa da chuva...

Pela uma de tarde, depois da visita ao castelo...FETU AFAYE!!! O festival. É como um desfile...com os chefes empoleirados numa cama, muito bem vestidos e adornados de ouro...Quatro senhores carregam o chefe na cabeça e fazem-no dançar ao som de tambores (não gostava de ver um Rx daqueles pescoços!). Os tambores também vão na cabeça e são tocados muito energicamente (não gostava de ver os tímpanos desta gente, devem estar todos surdos!)

Aparentemete todas estas funções, de chefe a toca-tambor, são de caracter hereditário.

Para além dos chefes, desfilam também os reis e rainhas das 7 companhias Asafo (os grupos guerreiros dos Ashanti). Tivemos a honra de conhecer a rainha da 4ª Companhia.
Há cor e música e no fim do desfile todos os chefes, reis, rainhas e as suas respectivas cortes e seguidores se reúnem num enorme espaço que existe apenas para este efeito e que está votado ao abandono o resto do ano. É uma grande praça, com bancadas para o povo, e à frente das bancadas estão postas cadeiras debaixo de tendas, para a realeza e chefias.

É dificil descrever...mas o certo é que há discursos e desta vez o presidente, que se me tinha escapado da outra vez, deu ares da sua graça com um larguíssimo e ininteligivel discurso.

Também estava prometido o Kofi Anan mas fez a desfeita de não aparecer :(

Elmina



Foi no fim-de-semana de 31 de Agosto a 2 de Setembro. Saímos cedo na sexta. Apanhámos o tro-tro desde Kaneshie Station e percorremos as 2 horas e meia que separam Cape Coast de Accra. Prefiro transformar as distâncias em tempo, aproxima-se mais da realidade.
Ficámos alojadas no Hans Cottage Botel, nos arredores de Cape Coast. Era um sítio agradável com um lago artificial com crocodilos, onde nos foi impossivel conseguir um colchão extra e onde o serviço do restaurante é do mais lento e ineficiente que tenho visto. Também conta com um pianista desafinado que torna as noites bem mais interessantes.

O facto do hotel ser fora da cidade torna conseguir um bom preço para um taxi numa tarefa muito mais complicada. O argumento: ai não fazes o preço que eu quero? então vou buscar outro...deixa de funcionar...Lá conseguimos 5 Gh cedis (50 000 cedis na moeda antiga) para 35 km e fomos direitas a Elmina.

Elmina possui o primeiro e maior castelo construido na costa ocidental africana. Batizado de São Jorge pelos portugueses, passou depois para mãos holandesas e terminou na posse dos ingleses até 1957, o ano da independencia. Primeiro depósito de mercadorias, depois de escravos e finalmente sede administrativa. Hoje é Património da Humanidade.

Fizémos a visita guiada, de caracter obrigatório e as atrocidades do passado foram declamadas com uma emoção que a esta distancia toda ainda consegue fazer emergir um culpa que não tenho. Passámos a Door of no Return, estivémos nas Male e Female Dungeons, nas celas para soldados e escravos.

Estava bom tempo e o sol brilhava nos barcos de pesca parados no porto.

Desde o Castelo de S. Jorge avista-se o Forte de S. Jago desde onde os Ingleses conquistaram Elmina. Depois da visita, subimos o monte de S. Jago para mudar a perspectiva.

De regresso a Cape Coast encontrei o meu primeiro supermercado digno desse nome. Comprei shampoo e um caderno.

domingo, 2 de setembro de 2007

Desde o Paraiso


Ada-Foah e a sua irmã Big Ada são duas cidades numa. A primeira, no estuário do Volta, é piscatória e a segunda, na montanha, é semi industrial.

Ada-Foah está nas margens do Volta, próxima do sítio onde este se junta ao mar e portanto depois do Lago Volta. Vive da pesca e do turismo.

O Volta abre-se para formar um estuário, um outro lago onde para além de schistossomas abundam pequenos carangueijos metidos dentro de buzios.

O estuário está separado do mar por uma estreita língua de areia e contam cerca de 20 ilhas, todas elas habitadas. Ficamos a dormir em cabanas muito perto do fim do rio, entre o lago e o mar, rodeadas de palmeiras e coqueiros. A areia e branca e a comida e óptima e tudo isto constitui o Paraíso.

Chegar ao paraíso não é fácil. Requer uma hora dentro de uma canoa que mete água, e um escaldão nas costas quando se chega ao meio-dia.

No Paraíso não há água quente, nem chuveiros, nem casa de banho. No Paraíso o banho é dentro de um balde e a sanita é uma caixa com um buraco. Não é menos paraíso por isto.

No Paraíso trabalha o Winfred que começou smal-smal e ambiciona ter 25 cabanas em Ada-Foah e esta quase a abrir outro paraíso em Keta.

Neste paraíso o mar é bravo e a areia da praia repleta de carangueijos e lixo. O lixo da grande Accra, trazido pirmeiro pelas chuvas e depois pelas correntes e mares.

Digo que é o Paraíso porque tem tudo para o ser e eu imagino este sitio daqui a 10 anos. Imagino água canalizada e quente, imagino uma praia limpa e imagino voltar aqui para que as crianças do Winfred possam ensinar as minhas a trepar coqueiros.

Eu não posso trepar coqueiros, é preciso aprender de criança, e por isso apanhei um coco do chão...gentilmente o Winfred abriu-mo (bem tentei ser eu a abri-lo mas parece que a faca de mato e eu não nos entendemos) e estava vazio. Explicou-me então que os cocos que caem no chão não sao bons e ofereceu-me um dos que tinha para vender.

O Winfred usa um gorro cor-de-rosa, da cor dos seus sonhos. Do sonho de subir na vida, de estar lá bem alto antes dos 30. Desejo-lhe o melhor possível e em 10 anos volto para ver que tal.

A mãe do Winfred é de Ada-Foah o pai é de Keta. De Ada-Foahy a Keta vai-se de barco e de tro-tro. Desta vez o barco e a motor e demora meia-hora. No caminho (porque é sábado) vemos uma serie de funerais, porque os mortos aqui só se enterram no fim de semana em clima festivo.
Keta tem uma Lagoa, a maior lagoa natural do oeste africano. Nas suas margens planta-se arroz, o arroz que alimenta o pais. Keta tem um castelo (construido pelos Dinamarqueses) em ruinas. E o último castelo na costa do Ghana.

sábado, 25 de agosto de 2007

O Milagre da Vida

Comecei no hospital...em medicina interna onde me aborreco imenso...por isso sabendo da existencia duma clinica nas proximidades fomos (eu e a Chiara) la passar a noite. Nessa noite (quarta-feira) nasceram 4 bebes. Os meus primeiros bebes. O meu primeiro bebe. Foi impressionante...nao desejo a ninguem ter um bebe...o acto em si...parir...

Mas depois dos gritos, depois das contraccoes, depois de empurrar, depois de passar a cabeca e o resto...depois de tudo isto...o momento exacto em que entra ar nos pulmoes daquela coisa pequenina, cheia de sangue e pegajosa...esse momento em que se da o milagre da vida...e duma extrema beleza. E nao esquecerei nunca este primeiro bebe e o segundo em que o ar entrou nos pulmoes dela.

Os seguintes foram menos impressionantes mas ainda assim, cada parto e um parto, cada mae e uma mae...

De todas as formas, agradeco enormemente nao ter que parir aqui...as maes estao deitadas numa zona e chegado o momento vao pelo seu prorio pe para a sala de partos...quando sai o bebe e depois a placenta, levantam-se e voltam pelo seu proprio pe para a cama de onde vieram. Para juntar a isto cada mae tem que trazer um balde, um frasco de desinfectante, uns 4 panos, os pensos higienicos, a vaselina, e tudituditudi...aquilo que nao trazem com elas e-lhes cobrado no momento...nao sei o que acontece se nao trazem dinheiro...
E tudo sem uma palavra de parte das enfermeiras/parideiras...talvez o unico que e dito a estas maes e shim, shim, shim (push, push, push).

Nao sei como e um parto na europa, nunca vi nenhum, mas espero e desejo que seja diferente...com mais compaixao...logo verei.

domingo, 19 de agosto de 2007

The Volta Region


Ok. O pânico passou...agora já não vou morrer, nem ser esfolada viva. Gosto.

O fim de semana foi muito interessante. Aprendi coisas cruciais para a minha sobrevivência por aqui. Aprendi por exemplo que os taxistas pedem sempre o dobro daquilo que vale a viagem e que é necessário regatear. Aprendi que o tempo realmente não importa...aquilo que parece perto pode não o ser, o que parece fácil pode demorar uma eternidade...

Fui para a região do Volta, que vem a ser o maior lago artificial do mundo...foi construido há cerca de 40 anos por uma empresa americana que curiosamente tem direito a 2/3 da energia produzida...o país não tinha os meios económicos necessarios para a construção e foi explorado (como muitos)...parece que este direito acabará em não muito tempo. A barragem, em Akobongo, fornece energia a quase todo o país, ao Togo e ao Benim.

A viagem comecou em Accra com 3 suiças que já cá estão há umas semanas...já sabem os truques quase todos e foi, para mim, como um curso de sobrevivencia.
De Korle bu apanhámos um taxi em direccão a Tema Station (que é uma estação de tro-tros). Esse taxi, aparentemente só tinha capacidade para 3 pessoas e eramos 4 de modo que quando passámos pela polícia tivemos que sair do carro e tentar apanhar outro. Conseguimos e lá chegámos a Tema Station que não era bem aquela onde deviamos ir...andamos um pouco e finalmente compramos o bilhete Hohoe. Os tro-tros não saem enquanto não estiverem cheios, o que é inteligente, mas pode implicar esperar duas horas...

Finalmente saímos de Accra e em cada sitio onde paravamos uma avalanche de gente rodeava o tro-tro com comida, água e mais alguma coisa para vender. Numa destas paragens, contra todos os conselhos dados pelos médicos em espanha e também contra o bom senso, comprei uns mechilhões. Tentei comer um mas não consegui...sabia a qualquer coisa que me ia deixar doente...assim que prudentemente devolvi-os a procedencia.

Seguimos caminho e de chegada a Hohoe conseguimos arranjar um taxi que por 140 000 cedis (14 euros) nos levou à pousada para deixar as coisas e depois as Wli waterfalls...

As Wli waterfalls caem da montanha que separa o Ghana do Togo. São duas, a lower e a upper...como chegámos tarde só pudemos ir a lower...depois de 40 minutos através de floresta tropical (lindo!!!). A lower tem 50 metros de altura e a upper não faço ideia. Ao lado das falls as paredes da montanha estão repletas de morcegos que comem fruta e abandonam a montanha pontualmente às 6 de tarde...às 6 e 15 o céu é uma nuvem negra...

O guia arranjou-nos cacau fresco...quando se abre tem sementes e uma especie de polpa branca que se chupa e que e muitíssimo bom...

Voltámos, jantámos e dormimos. No dia seguinte, fomos pequeno-almoçar panquecas com o melhor doce de manga do mundo e depois saimos em direcção a Atome onde há um Monkey Santuary...pagamos um balurdio, que parece ser normal, e fomos levadas a ver uns macaquinhos durante uns 15 minutos. Outra vez passeio pela floresta tropical. É de remarcar que há imensas borboletas por aqui e que é mesmo bonito vê-las voar pelo meio da selva.

Depois dos macacos seguimos viagem em direcção ao sul. Parámos para dormir em Atimbuko, onde o lago volta a ser rio. A paisagem e esplendida e na primera oportunidade penduro uma fotografia. Foi muito bom. O rio, a ponte, o verde, o jantar, a companhia, a cerveja...

No dia seguinte fomos ver a barragem...com direito a engenheiro e tudo para nos guiar. Pelos vistos a casa de férias do presidente é nas proximidades e estava previsto vir nesse dia...não o apanhámos por pouco :)
Estamos na estação das chuvas mas não tem chuvido muito de maneira que só têm duas das seis turbinas a funcionar...coisa que explica os ocasionais cortes de energia em Accra. Por motivos de seguranca nacional ??? não é permitido fotografar a zona da barragem onde se faz a distribuição da energia...o engenheiro não soube explicar porquê e parecia saber da existência de satelites...

Depois voltamos a Accra, alguns 100 km em duas horas e meia (e o tempo africano).